Textos dissertativos:
estrutura básica
Introdução e
Desenvolvimento
Observe alguns exemplos de Introdução
A televisão – “Se por um lado esse
popular veículo de comunicação pode influenciar
o espectador, também se constitui num excelente divulgador de informações com potencial até mesmo pedagógico.”
(as três ideias: manipulador de opiniões, divulgador de informações e instrumento
educacional.)
Escassez de energia
elétrica –
“Destacam-se como fatores preponderantes para esse processo o aumento populacional e a má distribuição de energia que podem
acarretar novo racionamento.”
(as três ideias: crescimento da população e da demanda de energia, problemas com
distribuição da energia gerada no Brasil e a consequência do racionamento do
uso de energia).
TIPOS DE DESENVOLVIMENTO
Causa e Consequência: expõem-se, obviamente, as
causas e as consequências do problema abordado. Geralmente se encadeiam as
causas em um parágrafo e as consequências em outro, mas, como sabemos não se
pode dizer que isso seja uma regra, e sim um costume da redação dissertativa.
É possível, ainda, valer-se somente
das causas ou somente das consequências do problema. Tudo vai depender dos dados e dos
conhecimentos de que você dispõe.
Leia
um exemplo, produzido a partir do tema “Evolução
tecnológica e proteção ambiental – como
conciliar?”
Note que o
aluno priorizou as consequências
que a displicência do homem em relação à natureza pode acarretar:
“É inevitável o
desenvolvimento da humanidade, porém, esta se concentra apenas em criar meios
tecnológicos que lhe proporcionem maior comodidade e se esquece de analisar as
consequências que tal procedimento poderá gerar.
Questionamentos sobre o
futuro do mundo já estão sendo levantados por muitos cientistas que se
preocupam, principalmente, com itens relacionados ao desmatamento. Mais de 45%
das florestas tropicais foram desmatadas e nada se tem feito para reverter essa
situação.
A sociedade é rodeada de
pessoas gananciosas que visam apenas ao seu bem estar, não importando quanto
mal tal procedimento poderá causar aos demais. É o caso, por exemplo, da
Amazônia. 25% de sua mata original deu espaço à agricultura e à pecuária, e,
atualmente, foi reivindicado ao governo o desflorestamento de mais 25% do restante.
Isso gerou certa revolta por parte da população, mas como intervir nesse tipo
de problema, que envolve pessoas com muita influência no poder?
Outra agravante relaciona-se
à poluição. Cidades como São Paulo e Nova Iorque possuem um dos mais elevados
índices de internações
hospitalares decorrentes de problemas respiratórios. Foi por esse
motivo, entre outros, que as nações se uniram e elaboraram o Tratado de Kyoto,
pedindo a redução dos gases poluentes gerados pelas indústrias. Entretanto, os
EUA, um dos principais responsáveis pela poluição mundial, recusaram-se a
assinar o acordo, que, segundo o presidente George Bush, poderia afetar sua
economia.
Os países precisam deixar de
lado os interesses financeiros e dar prioridade aos assuntos que dizem respeito
ao ecossistema, visto que os prejuízos do desenvolvimento não são imediatos mas
muitas amostras já têm sido
exibidas. O melhor
a fazer é providenciar medidas que possam reverter
essa situação enquanto há tempo.”
• Desenvolvimento por
trajetória histórica:
se você
tiver um bom conhecimento de história, pode utilizá-lo
a seu favor. É possível ilustrar a defesa de seu ponto de vista ou a exposição
de informações por meio de fatos históricos.
Nas dissertações escolares, costuma-se
fazer isso desta
maneira: em um parágrafo, geralmente o primeiro do
desenvolvimento, utiliza-se um fato do passado; noutro, o segundo, um do
futuro.
Leia uma dissertação sobre o
tema “Em
briga de elefantes, é a
grama que sai
perdendo”
“A admirada história de Davi
e Golias, em que o fraco prevalece, está longe de ser realidade. É cada vez
mais evidente o massacre dos pequenos.
Fatos como
a Guerra Fria
mostram exorbitantemente isso.
Nessa época, as potências URSS e EUA eram os elefantes.
Impunham suas políticas intervencionistas em todo e qualquer país sob seu
regime. É o caso de nações do Oriente Médio, às vezes financiadas pelos ianques
contra o inimigo vermelho ou vice versa. Esses povos tiveram muitos soldados
mortos em prol de seu subdesenvolvimento.
A conotação mais atual,
porém não tão recente, da inversão dessa passagem bíblica é o neoliberalismo,
principalmente no aspecto social. Os pobres (a grama), cada vez mais pobres,
são "exilados" por fugirem dos “pisoteios”. No entanto, os
"elefantes humanos" retomam sua briga nesse novo local. É o que
ocorre em virtude das guerras empresariais em que, sedentos por lucro e por
superar seus concorrentes, os grandes "engolem" as
pequenas empresas e, com toda
a sua tecnologia,
deixam milhares desempregados.
Essa inversão de valores
gera um mundo violento e selvagem. É interessante, porém, que, mais que não
olhar para as consequências, os responsáveis se deixem levar pela sua falsa
segurança (o dinheiro) e continuem com sua conduta, imperceptível aos próprios,
injusta em relação à humanidade.
É notória
a necessidade de
revertermos essa crônica
situação, algo que dificilmente os poderosos farão.
Portanto, deverá partir de nós a solução. Esta é uma educação sólida e
humanitária de nós mesmos e, principalmente, das futuras gerações.”
Desenvolvimento por contraste de ideias:
na dissertação argumentativa, é possível contrastar argumentos contrários e
favoráveis a algum tema e, a partir dessa oposição, posicionar-se (contrária ou
favoravelmente, é claro) diante dele. É importante que, nesse embate de ideias,
aquelas que respaldam o real ponto de vista do autor sejam nitidamente mais
convincentes e razoáveis que as adversas.
Veja agora
uma passagem de dissertação em que o aluno usa dessa possibilidade de
desenvolvimento.
“A clonagem em seres humanos.”
Observe que o autor, no primeiro
parágrafo do desenvolvimento, explora
o lado negativo
desse procedimento científico e,
no segundo, o positivo:
“Muito se debate,
atualmente, a respeito da clonagem humana. Acredita-se que esse processo possa
ser desastroso, trazendo ao mundo possíveis "seres mutantes".
Por outro lado, ela pode ser
benéfica, pois devidamente utilizada privilegiará a sociedade com avanços
científicos jamais vistos.”
Desenvolvimento a
partir de enumeração: sempre que
se enumerarem na introdução
os argumentos ou
informações que constarão
dos parágrafos subsequentes, tratar-se-á
de um desenvolvimento a
partir de enumeração.
É importante, como
já vimos, que em cada
parágrafo do desenvolvimento seja abordado
somente um argumento/informação e que nenhum
dos argumentos/informações antecipados na introdução seja “esquecido” na
parte mais importante do texto dissertativo.
O exemplo a seguir foi
produzido a partir do seguinte tema: “O Brasil é o Brasil das novelas?”.
“O retrato real do Brasil
não é a riqueza e o conforto que vemos nas novelas, e sim a miséria, o
clientelismo e o individualismo das classes mais abastadas que grande parte da população brasileira enfrenta dia após
dia.
As cenas dramáticas de
miseráveis pedindo nos semáforos, crianças trabalhando desde muito pequenas,
famílias morando em meio ao lixão e sobrevivendo dele, são muito mais
frequentes do que imaginamos.
O governo, preocupado com
assuntos “mais importantes”, lembra-se desse povo somente em véspera de
eleição. Promete mundos e fundos ou troca votos por qualquer miséria. Mas não é
só o governo que tem culpa do enorme problema.
A classe média só pensa em aumentar sua
riqueza para não entrar nesse índice de pobreza e os ricos preferem blindar os
vidros de seus carros para se proteger dessa população, que teima em incomodar
e pela qual não se acham responsáveis.
Enquanto houver, neste país,
tanto preconceito, tanta corrupção e tanta gente achando que não é responsável
por tal fato, a pobreza continuará e aumentará cada vez mais.”
Desenvolvimento
por contra-argumentação: é o tipo de desenvolvimento
em que o escritor expõe um argumento com o qual não se concorda e, por meio de
um contra-argumento mais convincente, refuta-o, nega-o, corrige-o.
Observe a abordagem da
seguinte redação,o tema é “As pesquisas mostram melhoras no Brasil. E a
realidade?”.
“O resultado da pesquisa do
Censo 2000 agradou ao presidente da república por indicar a melhoria das
condições de vida do brasileiro, em relação a anos anteriores ao seu governo.
Porém, tais dados não traduzem a dura realidade do país atual, fazendo com que
se questione sua veracidade.
E a desconfiança dessas
informações animadoras parte, até mesmo, do próprio FHC, que não consegue
relacionar os baixos níveis de renda da população ao aumento do consumo
de bens eletrônicos
pela mesma. Uma
explicação otimista para
tais estatísticas pode estar no fato de que a estabilidade monetária
aumentou o poder de compra do povo com a queda dos preços e maior facilidade de
acesso ao crédito.
Porém, melhor condiz com as
características da nova sociedade a justificativa de que os únicos responsáveis
pelo aumento das vendas são consumidores pertencentes à classe alta da população,
com a qual se concentra a maior parte da riqueza do Brasil.
A tal fator pode ser
comparada a contraposição entre os 60% de brasileiros com mais de dez anos que
não conseguiram concluir o ensino fundamental e o indicador social da pesquisa
de que a grande maioria das crianças está matriculada e passa mais tempo estudando.
Essa relação deixa claro o caráter maquiador do resultado do Censo, que é aproveitado
pelo governo como forma de autopromoção e não representa um retrato fiel da
sociedade.
Assim, pode-se concluir
que, apesar de
as pesquisas revelarem
conquistas importantes como a redução da mortalidade infantil e o
aumento da eficiência da saúde pública, outros pontos positivos de seu
resultado não devem ser levados ao pé da letra. Como podemos observar, esses
são capazes de ocultar problemas graves do país, como a má distribuição de renda
e o desequilíbrio quanto aos investimentos governamentais nos diferentes
setores da educação pública.”
Tipos de Conclusão
Qualquer texto, para estar completo, organiza-se em
três etapas básicas: introdução, desenvolvimento e conclusão. Cumpridas as duas
primeiras etapas, cabe à conclusão fechar o texto do modo mais adequado à
modalidade textual em questão. Nas dissertações, a conclusão é a parte final
que condensa os pontos centrais da discussão, inclusive o posicionamento
apresentado na tese.
A dissertação argumentativa, principal modalidade textual solicitada nas provas de redação de concursos e vestibulares, tem, na boa conclusão, grande parte da sua eficiência. Othon Garcia, em sua obra "Comunicação em Prosa Moderna", nos ensina que "não existe argumentação sem conclusão, que decorre naturalmente das provas ou argumentos apresentados". Partículas como "logo" e "portanto" são típicas no início de períodos ou parágrafos em que se nega (argumentação por refutação) ou confirma o teor da proposição.
Há várias formas de se concluir uma dissertação argumentativa, mas alguns cuidados precisam ser tomados. Então, apresentamos, a seguir, alguns aspectos a serem observados em diferentes tipos de conclusão dissertativa:
A dissertação argumentativa, principal modalidade textual solicitada nas provas de redação de concursos e vestibulares, tem, na boa conclusão, grande parte da sua eficiência. Othon Garcia, em sua obra "Comunicação em Prosa Moderna", nos ensina que "não existe argumentação sem conclusão, que decorre naturalmente das provas ou argumentos apresentados". Partículas como "logo" e "portanto" são típicas no início de períodos ou parágrafos em que se nega (argumentação por refutação) ou confirma o teor da proposição.
Há várias formas de se concluir uma dissertação argumentativa, mas alguns cuidados precisam ser tomados. Então, apresentamos, a seguir, alguns aspectos a serem observados em diferentes tipos de conclusão dissertativa:
Retomada
da tese
É importante que, ao terminar a leitura, o leitor
tenha total clareza quanto à tese ali defendida. Por isso, o autor de uma
dissertação não pode perder essa última possibilidade de reforçar seu
posicionamento no parágrafo final.
Para isso, é preciso que o conteúdo retomado na conclusão - seja apenas da tese ou de parte da análise - esteja em total coerência com o que foi escrito nas partes anteriores da redação, pois só assim se consegue a reafirmação de uma verdade. Mas atenção: o que deve ser retomado é apenas a essência do que já foi mostrado, evitando-se a mera repetição de frases e vocabulário.
Para isso, é preciso que o conteúdo retomado na conclusão - seja apenas da tese ou de parte da análise - esteja em total coerência com o que foi escrito nas partes anteriores da redação, pois só assim se consegue a reafirmação de uma verdade. Mas atenção: o que deve ser retomado é apenas a essência do que já foi mostrado, evitando-se a mera repetição de frases e vocabulário.
Perspectivas
futuras
Durante a análise do tema, principalmente quando
este tratar de uma situação problemática atual, a dissertação pode se basear em
dados passados e presentes, identificando causas, fazendo um paralelo
histórico, comparações. Isso feito, abre-se espaço para o olhar futuro em
relação ao problema.
É a hora de traçar perspectivas futuras, que podem envolver uma proposta de solução ou apenas uma projeção hipotética do que deverá acontecer, considerando-se determinados contextos. Em ambos os casos, o autor precisa basear-se nos conteúdos já analisados. Não é possível apresentar propostas de solução para problemas que não foram discutidos ou perspectiva futura que não esteja embasada em dados presentes.
É a hora de traçar perspectivas futuras, que podem envolver uma proposta de solução ou apenas uma projeção hipotética do que deverá acontecer, considerando-se determinados contextos. Em ambos os casos, o autor precisa basear-se nos conteúdos já analisados. Não é possível apresentar propostas de solução para problemas que não foram discutidos ou perspectiva futura que não esteja embasada em dados presentes.
Propostas
de enfrentamento do problema
Quanto às propostas de solução, elas não devem ser
"utópicas", ou seja, não dá para propor que os países desenvolvidos
simplesmente aceitem dividir suas riquezas com os países pobres para acabar com
a miséria no mundo. Também não se devem apresentar propostas genéricas demais
ou típicas do senso comum, como dizer que o governo precisa "fazer alguma
coisa" ou que as pessoas "precisam se conscientizar" de algo.
Em vez disso, pode-se propor que determinado órgão de certa área específica do governo reformule a lei que trata do assunto em questão, ou que seja criado um órgão fiscalizador para fazer cumprir determinado acordo. É possível também elaborar propostas mais concretas envolvendo a sociedade, como sugerir que determinados grupos se organizem em associações para pressionar a ação de instituições com poder de resolução do problema. Ou seja, o autor tem direito de manter seu ponto de vista em relação ao tema, só precisa apontar sugestões específicas, sempre citando nomes e escolhendo o vocabulário mais preciso, evitando as generalizações que não contribuem em nada com o texto.
Em vez disso, pode-se propor que determinado órgão de certa área específica do governo reformule a lei que trata do assunto em questão, ou que seja criado um órgão fiscalizador para fazer cumprir determinado acordo. É possível também elaborar propostas mais concretas envolvendo a sociedade, como sugerir que determinados grupos se organizem em associações para pressionar a ação de instituições com poder de resolução do problema. Ou seja, o autor tem direito de manter seu ponto de vista em relação ao tema, só precisa apontar sugestões específicas, sempre citando nomes e escolhendo o vocabulário mais preciso, evitando as generalizações que não contribuem em nada com o texto.
Por último, vale lembrar: nunca inicie uma discussão nova na conclusão, pois não haverá tempo para desenvolvê-la. Também não termine com perguntas abertas sobre questões que, ao invés de serem encaminhadas ao leitor, deveriam ter sido respondidas durante o texto, afinal, a dissertação (principalmente a argumentativa) expõe objetivamente um raciocínio e tem por função conduzir o leitor à aceitação dessa verdade.