segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Estrutura do texto dissertativo


Textos dissertativos: estrutura básica
Introdução e Desenvolvimento

Observe alguns exemplos de Introdução

A televisão – “Se por um lado esse popular veículo de comunicação pode influenciar o espectador, também se constitui num excelente divulgador de informações com potencial até mesmo pedagógico.”

(as três ideias: manipulador de opiniões, divulgador de informações e instrumento educacional.)

Escassez de energia elétrica – “Destacam-se como fatores preponderantes para esse processo o aumento populacional e a má distribuição de energia que podem acarretar novo racionamento.”

(as três ideias: crescimento da população e da demanda de energia, problemas com distribuição da energia gerada no Brasil e a consequência do racionamento do uso de energia).

TIPOS DE DESENVOLVIMENTO
Causa e Consequência: expõem-se, obviamente, as causas e as consequências do problema abordado. Geralmente se encadeiam as causas em um parágrafo e as consequências em outro, mas, como sabemos não se pode dizer que isso seja uma regra, e sim um costume da redação dissertativa.
É possível, ainda, valer-se somente das causas ou somente das consequências do problema.  Tudo vai depender dos dados e dos conhecimentos de que você dispõe.
Leia um exemplo, produzido a partir do tema “Evolução tecnológica e proteção ambiental  –  como  conciliar?”
Note que  o  aluno  priorizou  as consequências que a displicência do homem em relação à natureza pode acarretar:

“É inevitável o desenvolvimento da humanidade, porém, esta se concentra apenas em criar meios tecnológicos que lhe proporcionem maior comodidade e se esquece de analisar as consequências que tal procedimento poderá gerar.
Questionamentos sobre o futuro do mundo já estão sendo levantados por muitos cientistas que se preocupam, principalmente, com itens relacionados ao desmatamento. Mais de 45% das florestas tropicais foram desmatadas e nada se tem feito para reverter essa situação.
A sociedade é rodeada de pessoas gananciosas que visam apenas ao seu bem estar, não importando quanto mal tal procedimento poderá causar aos demais. É o caso, por exemplo, da Amazônia. 25% de sua mata original deu espaço à agricultura e à pecuária, e, atualmente, foi reivindicado ao governo o desflorestamento de mais 25% do restante. Isso gerou certa revolta por parte da população, mas como intervir nesse tipo de problema, que envolve pessoas com muita influência no poder?
Outra agravante relaciona-se à poluição. Cidades como São Paulo e Nova Iorque possuem um  dos  mais  elevados  índices  de  internações  hospitalares  decorrentes  de problemas respiratórios. Foi por esse motivo, entre outros, que as nações se uniram e elaboraram o Tratado de Kyoto, pedindo a redução dos gases poluentes gerados pelas indústrias. Entretanto, os EUA, um dos principais responsáveis pela poluição mundial, recusaram-se a assinar o acordo, que, segundo o presidente George Bush, poderia afetar sua economia.
Os países precisam deixar de lado os interesses financeiros e dar prioridade aos assuntos que dizem respeito ao ecossistema, visto que os prejuízos do desenvolvimento não são imediatos  mas  muitas  amostras  já  têm  sido  exibidas.  O  melhor  a  fazer  é providenciar medidas que possam reverter essa situação enquanto há tempo.”

• Desenvolvimento por  trajetória  histórica: se  você  tiver  um  bom conhecimento de história, pode utilizá-lo a seu favor. É possível ilustrar a defesa de seu ponto de vista ou a exposição de informações por meio de fatos históricos.
Nas dissertações escolares,  costuma-se  fazer  isso  desta  maneira:  em  um parágrafo, geralmente o primeiro do desenvolvimento, utiliza-se um fato do passado; noutro, o segundo, um do futuro. 

Leia uma dissertação sobre o tema “Em briga de elefantes,  é  a  grama  que  sai  perdendo”

“A admirada história de Davi e Golias, em que o fraco prevalece, está longe de ser realidade. É cada vez mais evidente o massacre dos pequenos.
Fatos  como  a  Guerra  Fria  mostram  exorbitantemente  isso.  Nessa  época,  as potências URSS e EUA eram os elefantes. Impunham suas políticas intervencionistas em todo e qualquer país sob seu regime. É o caso de nações do Oriente Médio, às vezes financiadas pelos ianques contra o inimigo vermelho ou vice versa. Esses povos tiveram muitos soldados mortos em prol de seu subdesenvolvimento.
A conotação mais atual, porém não tão recente, da inversão dessa passagem bíblica é o neoliberalismo, principalmente no aspecto social. Os pobres (a grama), cada vez mais pobres, são "exilados" por fugirem dos “pisoteios”. No entanto, os "elefantes humanos" retomam sua briga nesse novo local. É o que ocorre em virtude das guerras empresariais em que, sedentos por lucro e por superar seus concorrentes, os grandes "engolem"  as  pequenas  empresas  e,  com  toda  a  sua  tecnologia,  deixam  milhares desempregados.
Essa inversão de valores gera um mundo violento e selvagem. É interessante, porém, que, mais que não olhar para as consequências, os responsáveis se deixem levar pela sua falsa segurança (o dinheiro) e continuem com sua conduta, imperceptível aos próprios, injusta em relação à humanidade.
É  notória  a  necessidade  de  revertermos  essa  crônica  situação,  algo  que dificilmente os poderosos farão. Portanto, deverá partir de nós a solução. Esta é uma educação sólida e humanitária de nós mesmos e, principalmente, das futuras gerações.”

 Desenvolvimento por contraste de ideias: na  dissertação  argumentativa,  é possível contrastar argumentos contrários e favoráveis a algum tema e, a partir dessa oposição, posicionar-se (contrária ou favoravelmente, é claro) diante dele. É importante que, nesse embate de ideias, aquelas que respaldam o real ponto de vista do autor sejam nitidamente mais convincentes e razoáveis que as adversas.
Veja  agora  uma passagem de dissertação em que o aluno usa dessa possibilidade de desenvolvimento.
A clonagem em seres humanos.”
Observe que o autor, no primeiro parágrafo do  desenvolvimento,  explora  o  lado  negativo  desse  procedimento científico e, no segundo, o positivo:
“Muito se debate, atualmente, a respeito da clonagem humana. Acredita-se que esse processo possa ser desastroso, trazendo ao mundo possíveis "seres mutantes".
Por outro lado, ela pode ser benéfica, pois devidamente utilizada privilegiará a sociedade com avanços científicos jamais vistos.”

 Desenvolvimento  a  partir  de  enumeração: sempre  que  se  enumerarem  na introdução  os  argumentos  ou  informações  que  constarão  dos  parágrafos subsequentes,  tratar-se-á  de  um  desenvolvimento  a  partir  de  enumeração. 
É importante,  como  já  vimos,  que  em  cada  parágrafo  do  desenvolvimento  seja abordado  somente  um  argumento/informação  e  que  nenhum  dos argumentos/informações antecipados na introdução seja “esquecido” na parte mais importante do texto dissertativo.

O exemplo a seguir foi produzido a partir do seguinte tema: “O Brasil é o Brasil das novelas?”.
“O retrato real do Brasil não é a riqueza e o conforto que vemos nas novelas, e sim a miséria, o clientelismo e o individualismo das classes mais abastadas que grande parte  da população brasileira enfrenta dia após dia.
As cenas dramáticas de miseráveis pedindo nos semáforos, crianças trabalhando desde muito pequenas, famílias morando em meio ao lixão e sobrevivendo dele, são muito mais frequentes do que imaginamos.
O governo, preocupado com assuntos “mais importantes”, lembra-se desse povo somente em véspera de eleição. Promete mundos e fundos ou troca votos por qualquer miséria. Mas não é só o governo que tem culpa do enorme problema.
 A classe média só pensa em aumentar sua riqueza para não entrar nesse índice de pobreza e os ricos preferem blindar os vidros de seus carros para se proteger dessa população, que teima em incomodar e pela qual não se acham responsáveis.

Enquanto houver, neste país, tanto preconceito, tanta corrupção e tanta gente achando que não é responsável por tal fato, a pobreza continuará e aumentará cada vez mais.”

 Desenvolvimento por contra-argumentação: é o tipo de desenvolvimento em que o escritor expõe um argumento com o qual não se concorda e, por meio de um contra-argumento mais convincente, refuta-o, nega-o, corrige-o.

Observe a abordagem da seguinte redação,o tema é “As pesquisas mostram melhoras no Brasil. E a realidade?”.

“O resultado da pesquisa do Censo 2000 agradou ao presidente da república por indicar a melhoria das condições de vida do brasileiro, em relação a anos anteriores ao seu governo. Porém, tais dados não traduzem a dura realidade do país atual, fazendo com que se questione sua veracidade.
E a desconfiança dessas informações animadoras parte, até mesmo, do próprio FHC, que não consegue relacionar os baixos níveis de renda da população ao aumento do  consumo  de  bens  eletrônicos  pela  mesma.  Uma  explicação  otimista  para  tais estatísticas pode estar no fato de que a estabilidade monetária aumentou o poder de compra do povo com a queda dos preços e maior facilidade de acesso ao crédito.
Porém, melhor condiz com as características da nova sociedade a justificativa de que os únicos responsáveis pelo aumento das vendas são consumidores pertencentes à classe alta da população, com a qual se concentra a maior parte da riqueza do Brasil.
A tal fator pode ser comparada a contraposição entre os 60% de brasileiros com mais de dez anos que não conseguiram concluir o ensino fundamental e o indicador social da pesquisa de que a grande maioria das crianças está matriculada e passa mais tempo estudando. Essa relação deixa claro o caráter maquiador do resultado do Censo, que é aproveitado pelo governo como forma de autopromoção e não representa um retrato fiel da sociedade.
Assim,  pode-se  concluir  que,  apesar  de  as  pesquisas  revelarem  conquistas importantes como a redução da mortalidade infantil e o aumento da eficiência da saúde pública, outros pontos positivos de seu resultado não devem ser levados ao pé da letra. Como podemos observar, esses são capazes de ocultar problemas graves do país, como a má distribuição de renda e o desequilíbrio quanto aos investimentos governamentais nos diferentes setores da educação pública.”

Tipos de Conclusão
Qualquer texto, para estar completo, organiza-se em três etapas básicas: introdução, desenvolvimento e conclusão. Cumpridas as duas primeiras etapas, cabe à conclusão fechar o texto do modo mais adequado à modalidade textual em questão. Nas dissertações, a conclusão é a parte final que condensa os pontos centrais da discussão, inclusive o posicionamento apresentado na tese.

A dissertação argumentativa, principal modalidade textual solicitada nas provas de redação de concursos e vestibulares, tem, na boa conclusão, grande parte da sua eficiência. Othon Garcia, em sua obra "Comunicação em Prosa Moderna", nos ensina que "não existe argumentação sem conclusão, que decorre naturalmente das provas ou argumentos apresentados". Partículas como "logo" e "portanto" são típicas no início de períodos ou parágrafos em que se nega (argumentação por refutação) ou confirma o teor da proposição.

Há várias formas de se concluir uma dissertação argumentativa, mas alguns cuidados precisam ser tomados. Então, apresentamos, a seguir, alguns aspectos a serem observados em diferentes tipos de conclusão dissertativa:

Retomada da tese
É importante que, ao terminar a leitura, o leitor tenha total clareza quanto à tese ali defendida. Por isso, o autor de uma dissertação não pode perder essa última possibilidade de reforçar seu posicionamento no parágrafo final.

Para isso, é preciso que o conteúdo retomado na conclusão - seja apenas da tese ou de parte da análise - esteja em total coerência com o que foi escrito nas partes anteriores da redação, pois só assim se consegue a reafirmação de uma verdade. Mas atenção: o que deve ser retomado é apenas a essência do que já foi mostrado, evitando-se a mera repetição de frases e vocabulário.

Perspectivas futuras
Durante a análise do tema, principalmente quando este tratar de uma situação problemática atual, a dissertação pode se basear em dados passados e presentes, identificando causas, fazendo um paralelo histórico, comparações. Isso feito, abre-se espaço para o olhar futuro em relação ao problema.

É a hora de traçar perspectivas futuras, que podem envolver uma proposta de solução ou apenas uma projeção hipotética do que deverá acontecer, considerando-se determinados contextos. Em ambos os casos, o autor precisa basear-se nos conteúdos já analisados. Não é possível apresentar propostas de solução para problemas que não foram discutidos ou perspectiva futura que não esteja embasada em dados presentes.

Propostas de enfrentamento do problema
Quanto às propostas de solução, elas não devem ser "utópicas", ou seja, não dá para propor que os países desenvolvidos simplesmente aceitem dividir suas riquezas com os países pobres para acabar com a miséria no mundo. Também não se devem apresentar propostas genéricas demais ou típicas do senso comum, como dizer que o governo precisa "fazer alguma coisa" ou que as pessoas "precisam se conscientizar" de algo.
Em vez disso, pode-se propor que determinado órgão de certa área específica do governo reformule a lei que trata do assunto em questão, ou que seja criado um órgão fiscalizador para fazer cumprir determinado acordo. É possível também elaborar propostas mais concretas envolvendo a sociedade, como sugerir que determinados grupos se organizem em associações para pressionar a ação de instituições com poder de resolução do problema. Ou seja, o autor tem direito de manter seu ponto de vista em relação ao tema, só precisa apontar sugestões específicas, sempre citando nomes e escolhendo o vocabulário mais preciso, evitando as generalizações que não contribuem em nada com o texto.


Por último, vale lembrar: nunca inicie uma discussão nova na conclusão, pois não haverá tempo para desenvolvê-la. Também não termine com perguntas abertas sobre questões que, ao invés de serem encaminhadas ao leitor, deveriam ter sido respondidas durante o texto, afinal, a dissertação (principalmente a argumentativa) expõe objetivamente um raciocínio e tem por função conduzir o leitor à aceitação dessa verdade.