quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Pneumotórax 7ºano


Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . .
— Respire.

...............................................................................................................

— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Manuel Bandeira

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Exercícios sobre Preposições 7º ano



                                                                                           


1- Sublinhe as preposições:

a) Conversamos sobre nossos estudos.

b) Sempre lutamos contra a má vontade de alguns.

c) Estou mais uma vez sem meu ajudante.

d) A criançada partiu para o acampamento.

e) Aquela chácara é de meus tios.

f) A excursão chegará a Manaus hoje.

g) Você já viajou de avião?

h) Contamos com poucos recursos para concluir a obra.


2- Complete com a preposição adequada:

a) Saí __________ meus pais.

b) Estamos __________ luz há alguns minutos.

c) Minha família morou __________ Pernambuco vários anos.

d) Minha mãe gostava __________ conversar __________ arte.

e) __________ o juiz, ele não abriu a boca.

f) Estarei __________ Curitiba na próxima quinta-feira.

g) Deteve-se um instante ___________ observar o movimento ___________ pedestres.


3) Aponte a preposição e diga a relação que ela estabelece:

a) A cantora esteve em nossa cidade, recentemente. ______________________________________

b) É importante que você leia um bom livro sobre educação. _______________________________

c) Jogamos até o entardecer. _________________________________________________________

d) Dancei com Joana a noite toda. ____________________________________________________

e) Estamos preparados para enfrentar a subida. __________________________________________

f) Você tem algum projeto para tornar a cidade mais bonita? _______________________________

g) Não perdeu a calma durante a competição. ___________________________________________

h) Os pratos são de porcelana. _______________________________________________________

i) É fundamental lutarmos contra essa lamentável situação. ________________________________

j) Nunca viajei de navio. ____________________________________________________________


4- Use todas as preposições deste quadro para ligar as palavras das frases abaixo:

até          desde           após           a           sobre           sem           perante     para

a) Fomos __________ várias lojas.

b) Saímos __________ as 10 horas.

c) Comprei um lenço __________ você.

d) Estou gripada __________sábado.

e) Corremos __________ a esquina.

f) Conversamos __________ o assunto.

g) Todos são iguais ____________ a lei.

h) Prefiro chá __________ açúcar.


5- Sublinhe a preposição e localize, no quadro abaixo, a relação que ela estabelece.

a) Chorava de dor. ________________________________________________________________

b) O técnico não viajou com a equipe. _________________________________________________

c) Fiquei ouvindo o disco de Pedrinho. ________________________________________________

d) Vou ficar dois dias em Manaus. ____________________________________________________

e) O touro investiu contra a multidão. _________________________________________________

f) A menina falava com grande desembaraço. ___________________________________________




POSSE – MODO – CAUSA – COMPANHIA – LUGAR – OPOSIÇÃO

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Exercícios sobre adjunto adverbial 8º ano

1. Sabemos que a locução adverbial é a união de duas palavras que possuem o valor de um advérbio. Diante das orações que seguem, transforme as locuções adverbiais em advérbio:

a- Tudo que ocorreu, com certeza, a família já sabia.
b – Preciso me aproximar de forma direta às pessoas mais influentes.
c – Com muita calma procuraremos solucionar o problema.
d – O animal o atingiu com ferocidade, mas ele conseguiu escapar a tempo.
e – A esperança e o otimismo são virtudes que devemos cultivar todos os dias.

2. (U. F. Viçosa) Em todas as alternativas, há dois advérbios, exceto:

a – (  ) Ele permaneceu muito calado.
b -  (  ) Amanhã, não iremos ao cinema.
c -  (  ) O menino, ontem, cantou desafinadamente.
d- (  ) Tranquilamente, realizou-se hoje, o jogo.
e – (  ) Ela falou calma e sabiamente.

3. Crie uma oração para cada adjunto adverbial indicado:modo, tempo, lugar, causa, intensidade, negação e dúvida.

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4. Eis o seguinte poema. Leia-o atenciosamente:

 “Poema só para Jaime Ovalle"

Quando hoje acordei, ainda fazia escuro
 (Embora a manhã já estivesse avançada).
Chovia.
Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.
Então me levantei,
Bebi o café que eu mesmo preparei,
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando...
- Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei.
Manuel Bandeira, in “Antologia", pág.198.A propósito do mesmo, explicite seus conhecimentos, levando em consideração o que se pede:

a – De acordo com sua percepção, há a presença de vários verbos. Destaque-os.

b – Analise atentamente sobre a ocorrência de adjuntos adverbiais. Caso tenha identificado, aponte-os.

c- Feito isso, indique a circunstância expressa pelos mesmos, dizendo se é de modo, tempo, entre outras.

5. Tendo como referência os termos em destaque, relacione a 2ª coluna de acordo com a primeira:

a – Quando chegares do trabalho avise-me.
b – O discurso do diretor foi aplaudido com entusiasmo.
c – Visitaremos o litoral nordestino nestas férias.
d – Como chovia bastante, não fomos ao cinema, conforme combinado.
e – Fiquei muito agradecida pela sua ajuda.

(  ) adjunto adverbial de intensidade
(  ) adjunto adverbial de lugar
(  ) adjunto adverbial de modo
(  ) adjunto adverbial de causa
(  ) adjunto adverbial de tempo

Fonte: "portuguescienciaviva"

domingo, 26 de agosto de 2012

Exercícios sobre Concordância Verbal - 8º ano


Faça o verbo concordar corretamente nas orações:

01. O pessoal não [gostaram / gostou] da festa.
02. A turma [gostou / gostaram] da aula de ontem.
03. Metade dos alunos [fez / fizeram] o trabalho.
04. Um bloco de foliões [animavam / animava] a festa.
05. Uma porção de índios [surgiram / surgiu] do nada.
06. Um bando de pulhas [saqueou / saquearam] as casas.
07. A maior parte dos recursos se [esgotou / esgotaram].
08. O povo [aclamou / aclamaram] o candidato.
09. A multidão [invadiu / invadiram] o campo.
10. Os Estados Unidos [é / são] um país rico.
11. Minas Gerais [são / é] um belo estado.
12. Os Andes [fica / ficam] na América do Sul.
13. A maior parte dos carros [tinham / tinha] defeitos.
14. O bando [fuçava / fuçavam] a casa deserta.
15. A maioria [está / estão] contra o aumento do pão.
16. O Amazonas [correm / corre] para o mar.
17. Os Lusíadas [tornaram / tornou] Camões imortal.
18. Os Imigrantes [agradou / agradaram] os telespectadores.
19. Os Três Mosqueteiros [são / é] de Alexandre Dumas.
20. Vossa Excelência [agiu / agistes] com moderação.
21. Vossa Senhoria [está / estais] melhor agora?
22. Vossa Senhoria me [entendeu / entendestes] mal.
23. Vossa Excelência se [enganaste / enganou].
24. Vossa Senhoria [continuais / continua] zangado comigo?
25. Os cardumes [subiam / subia] o rio.
26. Metade das laranjas [estava / estavam] podre(s).
27. A multidão [vociferava / vociferavam] ameaças.
28. Uma equipe de policiais [prendeu / prenderam] os ladrões.
29. [Chegava / Chegavam] à multidão de passageiros.
30. Mais de mil pessoas [acertaram / acertou] na loteria.

Fonte: recanto das Letras

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

"Menina no jardim" de Paulo Mendes Campos. 8º ano


Menina no jardim


Menina no jardim

Paulo Mendes Campos


Em seus 14 meses de permanência neste mundo, a garotinha não tinha tomado o menor conhecimento das leis que governam a nação. Isso se deu agora na praça, logo na chamada República Livre de Ipanema.
Até ontem ela se comprazia em brincar com a terra. Hoje, de repente, deu-lhe um tédio enorme do barro de que somos feitos: atirou o punhado de pó ao chão, ergueu o rosto, ficou pensativa, investigando com ar aborrecido o mundo exterior. Por um momento seus olhos buscaram o jardim à procura de qualquer novidade. E aí ela descobriu o verde extraordinário: a grama. Determinada, levantou-se do chão e correu para a relva, que era, vá lá, bonita, mas já bastante chamuscada pela estiagem.
Não durou mais que três minutos seu deslumbramento. Da esquina, um crioulão de bigodes, representante dos Poderes da República, marchou até ela, buscando convencê-la de que estava desrespeitando uma lei nacional, um regulamento estadual, uma postura municipal, ela ia lá saber o quê.
Diga-se, em nome da verdade, que no diálogo que se travou em seguida, maior violência se registrou por parte da infratora do que por parte da Lei, um guarda civil feio, mas invulgarmente urbano.
─ Desce da grama, garotinha  disse a Lei.
 Blá blé bli bá  protestou a garotinha.
 É proibido pisar na grama  explicou o guarda.
 Bá bá bá  retrucou a garotinha com veemência.
 Vamos, desce, vem para a sombra, que é melhor.
 Buh buh  afirmou a garotinha, com toda razão, pois o sol estava mais agradável do que a sombra.
A insubmissão da garotinha atingiu o clímax quando o guarda estendeu-lhe a mão com a intenção de ajudá-la a abandonar o gramado. A gentileza foi revidada comum safanão. Dura lex sed lex.
 Onde está sua mamãe?
A garotinha virou as costas ao guarda, com desprezo. A essa altura levantou-se do banco, de onde assistia à cena, o pai da garota, que a reconduziu, sob chorosos protestos, à terra seca dos homens, ao mundo sem relva que o Estado faculta ao ir e vir dos cidadãos.
A própria Lei, meio encabulada com o seu rigor, tudo fez para que o pai da garotinha se persuadisse de que, se não há mal para que uma brasileira tão pequenininha pise na grama, isso de qualquer forma poderia ser um péssimo exemplo para os brasileiros maiores.
 Aberto o precedente, os outros fariam o mesmo  disse o guarda com imponência.
 Que fizessem, deveriam fazê-lo  disse o pai.
 Como?  perguntou o guarda confuso e vexado.
 A grama só podia ter sido feita, por Deus ou pelo Estado, para ser pisada. Não há sentido em uma relva na qual não se pode pisar.
 Mas isso estraga a grama, cavalheiro!
 E daí? Que tem isso?
 Se a grama morrer, ninguém mais pode ver ela  raciocinou a Lei.
 E o senhor deixa de matar a sua galinha só porque o senhor não pode mais ver ela?
O guarda ficou perplexo e mudo. O pai, indignado, chegou à peroração:
 É evidente que a relva só pode ter sido feita para ser pisada. Se morre, é porque não cuidam dela. Ou porque não presta. Que morra. Que seja plantado em nossos parques o bom capim do trópico. Ou que não se plante nada. Que se aumente pelo menos o pouco espaço dos nossos poucos jardins. O que é preciso plantar, seu guarda, é uma semente de bom-senso nos sujeitos que fazem os regulamentos.
 Buh bah  concordou a menina, correndo em disparada para a grama.
 O senhor entende o que ela diz?  perguntou o guarda.
 Claro  respondeu o pai.
 Que foi que ela disse agora?
 Não a leve a mal, mas ela mandou o regulamento para o diabo que o carregue.

"O Homem nu", de Fernando Sabino. 7º ano.


O Homem Nu
Fernando Sabino

Ao acordar, disse para a mulher:
— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa.  Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.
— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.
— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém.   Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.
Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão.  Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.
Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:
— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.
Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.
Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares...  Desta vez, era o homem da televisão!
Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:
— Maria, por favor! Sou eu!
Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão.
Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.
— Ah, isso é que não!  — fez o homem nu, sobressaltado.
E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!
— Isso é que não — repetiu, furioso.
Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar.  Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador.  Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou descer?  Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.
— Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si.
Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:
— Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso.  — Imagine que eu...
A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:
— Valha-me Deus! O padeiro está nu!
E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:
— Tem um homem pelado aqui na porta!
Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:
— É um tarado!
— Olha, que horror!
— Não olha não! Já pra dentro, minha filha!
Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.
— Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir.
Não era: era o cobrador da televisão.

Essa crônica foi retirada de um livro que leva o mesmo nome, P.65, 1960

"A Doida", conto de Carlos Drummond de Andrade. 6º ano


A doida

                                                                                         (Carlos Drummond de Andrade "Contos de Aprendiz")
                                                                                  
A doida habitava um chalé no centro do jardim maltratado. E a rua descia para o córrego, onde os meninos costumavam banhar-se. Era só aquele chalezinho, à esquerda, entre o barranco e um chão abandonado; à direita, o muro de um grande quintal. E na rua, tornada maior pelo silêncio, o burro pastava. Rua cheia de capim, pedras soltas, num declive áspero. Onde estava o fiscal, que não mandava capiná-la?

Os três garotos desceram manhã cedo, para o banho e a pega de passarinho. Só com essa intenção. Mas era bom passar pela casa da doida e provocá-la. As mães diziam o contrário: que era horroroso, poucos pecados seriam maiores. Dos doidos devemos ter piedade, porque eles não gozam dos benefícios com que nós, os sãos, fomos aquinhoados. Não explicavam bem quais fossem esses benefícios, ou explicavam demais, e restava a impressão de que eram todos privilégios de gente adulta, como fazer visitas, receber cartas, entrar para irmandade. E isso não comovia ninguém. A loucura parecia antes erro do que miséria. E os três sentiam-se inclinados a lapidar a doida, isolada e agreste no seu jardim. Como era mesmo a cara da doida, poucos poderiam dizê-lo. Não aparecia de frente e de corpo inteiro, como as outras pessoas, conversando na calma. Só o busto, recortado, numa das janelas da frente, as mãos magras, ameaçando. Os cabelos, brancos e desgrenhados. E a boca inflamada, soltando xingamentos, pragas, numa voz rouca. Eram palavras da Bíblia misturadas a termos populares, dos quais alguns pareciam escabrosos, e todos fortíssimos na sua cólera.

Sabia-se confusamente que a doida tinha sido moça igual às outras no seu tempo remoto (contava mais de 60 anos, e loucura e idade, juntas, lhe lavravam o corpo). Corria, com variantes, a história de que fora noiva de um fazendeiro, e o casamento, uma festa estrondosa; mas na própria noite de núpcias o homem a repudiara, Deus sabe por que razão. O marido ergueu-se terrível e empurrou-a, no calor do bate-boca; ela rolou escada abaixo, foi quebrando ossos, arrebentando-se. Os dois nunca mais se viram. Já outros contavam que o pai, não o marido, a expulsara, e esclareciam que certa manhã o velho sentira um amargo diferente no café, ele que tinha dinheiro grosso e estava custando a morrer – mas nos racontos antigos abusava-se de veneno. De qualquer modo, as pessoas grandes não contavam a história direito, e os meninos deformavam o conto. Repudiada por todos, ela se fechou naquele chalé do caminho do córrego, e acabou perdendo o juízo. Perdera antes todas as relações. Ninguém tinha ânimo de visitá-la. O padeiro mal jogava o pão na caixa de madeira, à entrada, e eclipsava-se. Diziam que nessa caixa uns primos generosos mandavam pôr, à noite, provisões e roupas, embora oficialmente a ruptura com a família se mantivesse inalterável. Às vezes uma preta velha arriscava-se a entrar, com seu cachimbo e sua paciência educada no cativeiro, e lá ficava dois ou três meses, cozinhando. Por fim a doida enxotava-a. E, afinal, empregada nenhuma queria servi-la. Ir viver com a doida, pedir a bênção à doida, jantar em casa da doida, passou a ser, na cidade, expressões de castigo e símbolos de irrisão.
Vinte anos de tal existência, e a legenda está feita. Quarenta, e não há mudá-la. O sentimento de que a doida carregava uma culpa, que sua própria doidice era uma falta grave, uma coisa aberrante, instalou-se no espírito das crianças. E assim, gerações sucessivas de moleques passavam pela porta, fixavam cuidadosamente a vidraça e lascavam uma pedra. A princípio, como justa penalidade. Depois, por prazer. Finalmente, e já havia muito tempo, por hábito. Como a doida respondesse sempre furiosa, criara-se na mente infantil a idéia de um equilíbrio por compensação, que afogava o remorso.

Em vão os pais censuravam tal procedimento. Quando meninos, os pais daqueles três tinham feito o mesmo, com relação à mesma doida, ou a outras. Pessoas sensíveis lamentavam o fato, sugeriam que se desse um jeito para internar a doida. Mas como? O hospício era longe, os parentes não se interessavam. E daí – explicava-se ao forasteiro que porventura estranhasse a situação – toda cidade tem seus doidos; quase que toda família os tem. Quando se tornam ferozes, são trancados no sótão; fora disto, circulam pacificamente pelas ruas, se querem fazê-lo, ou não, se preferem ficar em casa. E doido é quem Deus quis que ficasse doido... Respeitemos sua vontade. Não há remédio para loucura; nunca nenhum doido se curou, que a cidade soubesse; e a cidade sabe bastante, ao passo que livros mentem.

Os três verificaram que quase não dava mais gosto apedrejar a casa. As vidraças partidas não se recompunham mais. A pedra batia no caixilho ou ia aninhar-se lá dentro, para voltar com palavras iradas. Ainda haveria louça por destruir, espelho, vaso intato? Em todo caso, o mais velho comandou, e os outros obedeceram na forma do sagrado costume. Pegaram calhaus lisos, de ferro, tomaram posição. Cada um jogaria por sua vez, com intervalos para observar o resultado. O chefe reservou-se um objetivo ambicioso: a chaminé.

O projétil bateu no canudo de folha-de-flandres enegrecido – blem – e veio espatifar uma telha, com estrondo. Um bem-te-vi assustado fugiu da mangueira próxima. A doida, porém, parecia não ter percebido a agressão, a casa não reagia. Então o do meio vibrou um golpe na primeira janela. Bam! Tinha atingido uma lata, e a onda de som propagou-se lá dentro; o menino sentiu-se recompensado. Esperaram um pouco, para ouvir os gritos. As paredes descascadas, sob as trepadeiras e a hera da grade, as janelas abertas e vazias, o jardim de cravo e mato, era tudo a mesma paz.

Aí o terceiro do grupo, em seus 11 anos, sentiu-se cheio de coragem e resolveu invadir o jardim. Não só podia atirar mais de perto na outra janela, como até, praticar outras e maiores façanhas. Os companheiros, desapontados com a falta do espetáculo cotidiano, não, queriam segui-lo. E o chefe, fazendo valer sua autoridade, tinha pressa em chegar ao campo.

O garoto empurrou o portão: abriu-se. Então, não vivia trancado? ...E ninguém ainda fizera a experiência. Era o primeiro a penetrar no jardim, e pisava firme, posto que cauteloso. Os amigos chamavam-no, impacientes. Mas entrar em terreno proibido é tão excitante que o apelo perdia toda a significação. Pisar um chão pela primeira vez; e chão inimigo. Curioso como o jardim se parecia com qualquer um; apenas era mais selvagem, e o melão-de-são-caetano se enredava entre as violetas, as roseiras pediam poda, o canteiro de cravinas afogava-se em erva. Lá estava, quentando sol, a mesma lagartixa de todos os jardins, cabecinha móbil e suspicaz. O menino pensou primeiro em matar a lagartixa e depois em atacar a janela. Chegou perto do animal, que correu. Na perseguição, foi parar rente do chalé, junto à cancelinha azul (tinha sido azul) que fechava a varanda da frente. Era um ponto que não se via da rua, coberto como estava pela massa de folha gemo A cancela apodrecera, o soalho da varanda tinha buracos, a parede, outrora pintada de rosa e azul, abria-se em reboco, e no chão uma farinha de caliça denunciava o estrago das pedras, que a louca desistira de reparar.

A lagartixa salvara-se, metida em recantos só dela sabidos, e o garoto galgou os dois degraus, empurrou cancela, entrou. Tinha a pedra na mão, mas já não era necessária; jogou-a fora. Tudo tão fácil, que até ia perdendo o senso da precaução. Recuou um pouco e olhou para a rua: os companheiros tinham sumido. Ou estavam mesmo com muita pressa, ou queriam ver até aonde iria a coragem dele, sozinho em casa da doida. Tomar café com a doida. Jantar em casa da doida. Mas estaria a doida?

A princípio não distinguiu bem, debruçado à janela, a matéria confusa do interior. Os olhos estavam cheios de claridade, mas afinal se acomodaram, e viu a sala, completamente vazia e esburacada, com um corredorzinho no fundo, e no fundo do corredorzinho uma caçarola no chão, e a pedra que o companheiro jogará.

Passou a outra janela e viu o mesmo abandono, a mesma nudez. Mas aquele quarto dava para outro cômodo, com a porta cerrada. Atrás da porta devia estar a doida, que inexplicavelmente não se mexia, para enfrentar o inimigo. E o menino saltou o peitoril, pisou indagador no soalho gretado, que cedia.

A porta dos fundos cedeu igualmente à pressão leve, entreabrindo-se numa faixa estreita que mal dava passagem a um corpo magro.

No outro cômodo a penumbra era mais espessa parecia muito povoada. Difícil identificar imediatamente as formas que ali se acumulavam. O tato descobriu uma coisa redonda e lisa, a curva de uma cantoneira. O fio de luz coado do jardim acusou a presença de vidros e espelhos. Seguramente cadeiras. Sobre uma mesa grande pairavam um amplo guarda-comida, uma mesinha de toalete mais algumas cadeiras empilhadas, um abajur de renda e várias caixas de papelão. Encostado à mesa, um piano também soterrado sob a pilha de embrulhos e caixas. Seguia-se um guarda-roupa de proporções majestosas, tendo ao alto dois quadros virados para a parede, um baú e mais pacotes. Junto à única janela, olhando para o morro, e tapando pela metade a cortina que a obscurecia, outro armário. Os móveis enganchavam-se uns nos outros, subiam ao teto. A casa tinha se espremido ali, fugindo à perseguição de 40 anos.

O menino foi abrindo caminho entre pernas e braços de móveis, contorna aqui, esbarra mais adiante. O quarto era pequeno e cabia tanta coisa.

Atrás da massa do piano, encurralada a um canto, estava a cama. E nela, busto soerguido, a doida esticava o rosto para a frente, na investigação do rumor insólito.Não adiantava ao menino querer fugir ou esconder-se. E ele estava determinado a conhecer tudo daquela casa. De resto, a doida não deu nenhum sinal de guerra. Apenas levantou as mãos à altura dos olhos, como para protegê-los de uma pedrada.

Ele encarava-a, com interesse. Era simplesmente uma velha, jogada num catre preto de solteiro, atrás de uma barricada de móveis. E que pequenininha! O corpo sob a coberta formava uma elevação minúscula. Miúda, escura, desse sujo que o tempo deposita na pele, manchando-a. E parecia ter medo.

Mas os dedos desceram um pouco, e os pequenos olhos amarelados encararam por sua vez o intruso com atenção voraz, desceram às suas mãos vazias, tornaram a subir ao rosto infantil.

A criança sorriu, de desaponto, sem saber o que fizesse.

Então a doida ergueu-se um pouco mais, firmando-se nos cotovelos. A boca remexeu, deixou passar um som vago e tímido.

Como a criança não se movesse, o som indistinto se esboçou outra vez. Ele teve a impressão de que não era xingamento, parecia antes um chamado. Sentiu-se atraído para a doida, e todo desejo de maltratá-la se dissipou. Era um apelo, sim, e os dedos, movendo-se canhestramente, o confirmavam.

O menino aproximou-se, e o mesmo jeito da boca insistia em soltar a mesma palavra curta, que entretanto não tomava forma. Ou seria um bater automático de queixo, produzindo um som sem qualquer significação?

Talvez pedisse água. A moringa estava no criado - mudo, entre vidros e papéis. Ele encheu o copo pela metade, estendeu-o. A doida parecia aprovar com a cabeça, e suas mãos queriam segurar sozinhas, mas foi preciso que o menino a ajudasse a beber.

Fazia tudo naturalmente, e nem se lembrava mais por que entrara ali, nem conservava qualquer espécie de aversão pela doida. A própria idéia de doida desaparecera. Havia no quarto uma velha com sede, e que talvez estivesse morrendo.

Nunca vira ninguém morrer, os pais o afastavam se havia em casa um agonizante. Mas deve ser assim que as pessoas morrem.

Um sentimento de responsabilidade apoderou-se dele. Desajeitadamente, procurou fazer com que a cabeça repousasse sobre o travesseiro. Os músculos rígidos da mulher não o ajudavam. Teve que abraçar-lhe os ombros – com repugnância – e conseguiu, afinal, deitá-la em posição suave.

Mas a boca deixava passar ainda o mesmo ruído obscuro, que fazia crescer as veias do pescoço, inutilmente. Água não podia ser, talvez remédio...

Passou-lhe um a um, diante dos olhos, os frasquinhos do criado-mudo. Sem receber qualquer sinal de aquiescência. Ficou perplexo, irresoluto. Seria caso talvez de chamar alguém, avisar o farmacêutico mais próximo, ou ir à procura do médico, que morava longe. Mas hesitava em deixar a mulher sozinha na casa aberta e exposta a pedradas. E tinha medo de que ela morresse em completo abandono, como ninguém no mundo deve morrer, e isso ele sabia que não apenas porque sua mãe o repetisse sempre, senão também porque muitas vezes, acordando no escuro, ficara gelado por não sentir o calor do corpo do irmão e seu bafo protetor.

Foi tropeçando nos móveis, arrastou com esforço o pesado armário da janela, desembaraçou a cortina, e a luz invadiu o depósito onde a mulher morria. Com o ar fino veio uma decisão. Não deixaria a mulher para chamar ninguém. Sabia que não poderia fazer nada para ajudá-la, a não ser sentar-se à beira da cama, pegar-lhe nas mãos e esperar o que ia acontecer.
 

sexta-feira, 29 de junho de 2012

As várias faces da "Canção do Exílio"

Como vimos em nossas aulas, a intertextualidade é apresentada de várias maneiras, a conhecida "Canção do Exílio" do poeta Gonçalves Dias, é um dos textos mais revisitados de nossa Literatura. 




Canção do Exílio 

"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá."

Gonçalves Dias 

Outra Canção do Exílio 

Minha terra tem Palmeiras,
Corinthians e outros times
De copas exuberantes
Que ocultam muitos crimes.
As aves que aqui revoam
São corvos do nunca mais,
A povoar nossa noite
Com duros olhos de açoite
Que os anos esquecem jamais.
Em cismar sozinho, ao relento,
Sob um céu poluído, sem estrelas,
Nenhum prazer encontro eu cá;
Porque me lembro do tempo
Em que livre na campina
Pulsava meu coração, voava,
Como livre sabiá; ciscando
Nas capoeiras, cantando
Nos matagais, onde hoje a morte
Tem mais flores, , nossa vida
Mais terrores, noturnos,
De mil suores fatais.
[...]

Eduardo Alves da Costa


Neste poema o autor de tempos modernos não quer exuberar a beleza do Brasil, mas chamar a atenção para os problemas encontrados hoje nestas terras. De qualquer modo este tema e a intertextualidade possuem varias vozes o que nos remete a certeza de que Gonçalves Dias ainda hoje apresenta muitos seguidores dando inúmeras vozes ao seu poema.

Vejamos o diálogo intertextual com o referido poema de algumas outras obras segundo Rebello (2010):
Na mesma época em Gonçalves Dias criou A canção do Exílio, Casimiro de Abreu também escreveu uma "canção do exílio", como citado acima:
Eu nasci além dos mares:
os meus lares,
Meus amores ficam lá!
- Onde canta nos retiros
seus suspiros,
Suspiros de sabiá!
(...)

Em outro poema, Casimiro de Abreu usa como epígrafe os dois primeiros versos do poema de Gonçalves Dias:
Minha Terra
Minha terra tem palmeiras 
onde canta o sabiá
Todos cantam sua terra, 
também vou cantar a minha
Nas débeis cordas da lira
hei de fazê-la rainha;
(...)

E, no Modernismo, com um tom de crítica, assim escreve Murilo Mendes a sua Canção do exílio:
Minha terra tem macieiras da Califórnia,
onde cantam gaturamos de Veneza.
(...)
Ai quem me dera comer uma carambola de verdade
e ver um sabiá com certidão de idade.

Drummond também escreve a sua Nova canção do exílio, que é dedicada a Josué Montello:
Um sabiá
na palmeira, longe.
Estas aves cantam
um outro canto.
(...)
Só na noite,
seria feliz;
um sabiá,
na palmeira, longe.
(...)
Ainda um grito de vida e
voltar
para onde é tudo belo
o fantástico:
a palmeira, o sabiá,
o longe
.
O poeta Mário Quintana escreve também a sua canção, mas com um olhar bem crítico e irônico:
Minha terra não tem palmeiras...
Em vez de um mero sabiá,
Cantam aves invisíveis
Nas palmeiras que não há.
(...)
Mais recentemente, por volta dos anos 70, Cacaso, satirizando a ditadura, escreve:
Minha terra tem palmeiras 
onde canta o tico-tico
Enquanto isso o sabiá
vive comendo o meu fubá.
Ficou moderno o Brasil
ficou moderno o milagre:
a água já não vira vinho,
vira direto vinagre.


Leia mais em: http://www.webartigos.com/artigos/intertextualidade-as-multiplas-vozes-na-cancao-do-exilio/66525/#ixzz1zCnCwqfn
 

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Exercícios sobre os Verbos 7º ano.

Bom trabalho, alunos. 


VERBO ( Conjugação, Modos, Tempos, Pessoas e Formas Nominais)

1. Leia o texto e circule os verbos.

O bilheteEscrevi mil vezes o bilhete de amor.
E ele virou poema,
provocou delírios,
arrepiou meus cabelos
e ferveu o meu corpo todo. (...)
Elias José 

2. Relacione as colunas de acordo o tempo dos verbos.

( a ) Fervi a água. ( ) presente
( b ) Fervo a água. ( ) pretérito
( c ) Ferverei a água. ( ) futuro

3. Observe os verbos e preencha os espaços de acordo a conjugação a qual eles pertençam:
Virar –  escrever –  girar –  dormir –  ficar –  partir –  sonhar –  crer –  provocar –  querer –  fugir –  conversar – entender-  amar –  sorrir –  orar –  estar –  cair –  fazer –  ir –  ver –  ler –  sair
1ª conjugação ( ):
2ª conjugação ( ): 
3ª conjugação ( ):


4. Escolha 3 verbos de cada conjugação acima e construa frases.

5. Indique em que modo estão os verbos destacados:

a) Quando Érica vem ao clube as crianças se divertem.
b) Essas alunas leem um livro por dia.
c) Se você estudar fará uma boa prova.
d) Retire a sujeira da sala.
e) A gente compreende seus erros.
f) Não coma tão rápido, garoto.
g) Se o médico descobrir a cura da doença ele viverá melhor.